Sempre perco meus olhos nos galhos das árvores.
Quando ando pelas ruas da minha cidade, de carro ou a pé, não é raro ter que freiar o carro a poucos centímetros do que está na frente e menos raro ainda é tropeçar nas calçadas. Na estrada, vou elegendo as árvores mais bonitas. Da última vez, foi um ipê amarelo, todo retorcido.
Eu olho para os galhos e me vejo neles. Não sei explicar. De vez em quando, tento reproduzir os seus movimentos nos meus dedos, só pra ver se de algum jeito a gente se parece.
Eu vejo árvores que os galhos tocam gentilmente o chão. Árvores que têm seus galhos escandalosos e retorcidos. Árvores que são elegantemente erguidas com poucos galhos e sem curvas. Árvores que são cobertas por tantos outros verdes e tantas outras vidas.
Às vezes, quando ando sozinha por alguma trilha, penso se seria possível virar uma árvore depois de morrer – a partir daí, gasto horas imaginando como eu seria.
Como será que é o tempo para seres que demoram quase um dia inteiro para completar uma respiração?
Olho para as veias dos meus braços e vejo ramos. Olho para os galhos das árvores e vejo braços. Chego a pensar que quando me viro de costas e deixo de vê-las, elas dançam seus galhos soltos no ar. Olho para a vida que povoa a superfície dos troncos e vejo um mundo inteiro ali.
Que eu não bata o carro e nem rale o joelho no chão.
Mas espero continuar a me encantar com tudo isso, ao olhar para o alto.