eu costumava ter sonhos
que se repetiam
ou que tinham continuidade
em noites distantes umas das outras
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de tempos em tempos
eu sonhava que voava
pelos corredores da minha escola
e também sonhava que o chão da loja da minha avó
tinha uma passagem secreta para uma sala de estar subterrânea, cheia de abajures coloridos
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sonhava que o elevador do prédio onde eu morava alcançava andares que não existiam – e eu sempre me surpreendia com isso, mesmo dormindo
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em outras noites, esse mesmo elevador me aparecia. de outro jeito, com sofás roxos de veludo e tapetes espalhados pelo chão. dentro dele, meus vizinhos conversavam sem pressa e eu ficava sem entender como não sabia desse lugar antes
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havia também o sonho
que vez ou outra aparecia
eu vivia sozinha
no alto de um farol
que ficava em um campo
cheio de capins longos
e de lá de cima
eu via o mar
e o azul desbotado
de todos os horizontes
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